O início de algo
Eu era bastante descontraída e procurava nos outros a leveza que tinha em mim, a falta de compromisso, o não levar as coisas muito a sério. E depois, como um comboio que vem a alta velocidade, apaixonei-me. Ah, e podia ter acontecido de tantas formas, mas foi justamente acontecer em circunstâncias tão singulares e ridículas.
Apaixonei-me e isso mudou-me a formatação. Apercebi-me da minha carência, da minha necessidade de afeto. Queria muito tê-lo perto, sempre perto, mais perto. Ele foi, por certo, a encruzilhada da minha vida.
Fiquei sozinha a lidar com esse sentimento e com as consequências do mesmo. Sem mencionar o que sentia, sem escrever sobre o que sentia, apenas e somente sentindo e sentindo doer cada respirar e cada pensamento que voava lá para a outra margem. Acusei-me de burrice várias vezes, de inocência a mais, de loucura, até. E de todas as acusações, talvez a da loucura fosse a que menos me custava aceitar. Bem vistas as coisas sempre era uma desculpa mais fácil de engolir.
Apenas uma miúda, eu: um quarto pequeno que era o meu mundo, um quarto de século vivido a meio gás e o coração rendido ao inimigo que achava tudo aquilo inócuo, quiçá giro. Apenas uma miúda, eu: um botão sobresselente do seu casaco, um talão antigo esquecido na sua carteira, o tira-gosto ideal para um paladar viciado.