De Agosto em Agosto
Sempre gostei de Agosto porque sempre gostei dos dias compridos e descomplicados que pareciam só acontecer ao oitavo mês do ano.
Quando era menina pequenina, Agosto era o mês em que mais ia à praia. Era o mês em que me deitava no chão da sala a trajar cuequinha e t-shirt e a ouvir canções romântico-depressivas na rádio, a ler Uma Aventura ou a fazer desenhos em folhas de rascunho, todos os dias, o dia todo. Era o mês em que o meu pai chegava do trabalho já de noite e às vezes com um pack de iogurtes do coelho que eu tanto adorava.
Num ápice passou a ser o mês das descobertas, das sessões fotográficas com amigas pela rua, das mini viagens ao centro da cidade e de me sentir no topo do mundo.
Posteriormente foi o mês em que conheci o Amor - já lá vão doze anos. Naquele Agosto de 2011 o meu primeiro namorado roubou um anel cor-de-rosa de plástico à irmã e ofereceu-mo. Era claramente um anel de brincar, 100% infantil e que provavelmente ela tinha guardado dos tempos da infância. Para mim foi um gesto bonito que na altura me abanou as estruturas. Eu usava religiosamente o anel. Usava por usar, porque ele me ofereceu. E ele ofereceu por oferecer, porque gostava de mim. Como o anel era rosa e eu sou pirosa desde que me lembro, pintava sempre as unhas de azul e sempre do mesmo tom de azul, porque adorava o contraste. O anel eventualmente rompeu e com ele também nós rompemos. E eu nunca mais pintei as unhas de azul porque simplesmente cresci e passei a preferir tons neutros.
Todos os outros Agostos foram só mais um mês. E na verdade é o que Agosto é: mais um mês. Mas este tem um sabor especial...
Já não me deito no chão. Não leio Uma Aventura, não ouço rádio em casa e definitivamente não faço desenhos em folhas de rascunho. Mas ainda trajo cuequinha e t-shirt e ainda adoro os iogurtes do coelho. Não pode nem deve mudar tudo!
A vida adulta é um drama que me impossibilita de fazer sessões fotográficas com amigas (e vá, de ter amigas). Às vezes sinto-me no topo do mundo e dois minutos a seguir toma lá morangos, caio para o fundo do poço que me fodo. Quanta emoção! O centro da cidade já não chama por mim. Se puder fugir dele, fujo! De preferência para perto do mar, onde se apanha escaldões e respira melhor. Ah, e continuo a não gostar de unhas azuis, mas não resisto a uma unha cor-de-rosa... #parasemprepirosa. 😁
De Agosto em Agosto a vida vai acontecendo e nós não damos pelo tempo a passar. Mas ele passa. E eu precisei de vinte e seis Agostos para saber exatamente como quero viver todos os Agostos que me restam.