Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

a lua está linda hoje

a lua está linda hoje

01
Mai25

O dia que foi noite

A luz tremeu antes de se apagar de vez. Tudo se foi com ela. Seguiram-se oito horas "a trabalhar" iluminada por uma lanterna quando necessário. Depois disso, um duche longo enquanto a luz natural se despedia sonolenta. Antes da outra voltar, um pãozinho para aconchegar a barriga. Nunca um banho quente e um pão com presunto me souberam tão bem.

23
Abr25

É que eu escrevia muito

Já devo ter escrito dezenas de vezes sobre as saudades que sinto de escrever. Se calhar até é o tópico mais falado neste estaminé.

É que eu escrevia muito. Outrora, noutros blogs, escrevia até diariamente. Sobre tudo; qualquer coisa era importante o suficiente para ser mencionada, e todos os meus sentires, até os que pouco sentido faziam, eram desabafados. Bem sei que essa urgência de escrever acabou por me fazer excluir (quase) todas essas casas onde o meu coração morou traduzido. Era uma espécie de "não quero lidar com isto porque eu já não sou isto", algo bem típico meu. Não gosto de me adjectivar, mas sou assim, intensa... Estranha.

Claro que tenho pena de não mais ter acesso a essas tontices que deitei cá para fora. O que resta de mim, pelo menos assim à mão e sem ser este lugar bonito, são dois blogs:

- o primeiro de todos, iniciado em março de 2011, onde desenvolvi a paixão pela escrita;

- um qualquer outro, desinteressante, que criei pelo meio. 

Agora penso e repenso mais no que publico. Quase sempre, vá. Tenho (muitos) sentires que não desabafo e vão acontecendo (algumas) coisas importantes que não menciono. Inicialmente achei que este "bloqueio" fosse pelo cansaço. Depois passei a crer que o motivo era a minha tristeza. Entretanto ponderei que talvez fosse a nova rotina a pesar. Agora tenho medo que seja falta de vontade. Assusta-me resumir a minha atual relação com a escrita a um encolher de ombros. 

Bem vistas as coisas a blogosfera já não é o que era. Irónico, porque acho que também já falei disto N vezes.

Atualmente a blogosfera entristece-me. Pronto, disse. Onde estão todos? Esta plataforma parece ter sido abandonada, como um quintal que deixou de ser cuidado e agora é apenas mato. Onde está a essência de escrever por escrever, por partilhar, por desabafar, quiçá até por ensinar, e não somente para caçar reconhecimento, gostos, comentários? Onde estão todas as pessoas que conheci aqui, que trouxe para o lado de cá, com quem conversei, de quem gostei? Ainda me lembro dos seus nomes; esquecer nem sequer seria meu.

Sim, fico triste. Que tontice é ficar triste por tão pouco.

05
Abr25

Coisas que ficam, e que são o que são

Há dias que talvez fiquem com um pouquinho mais de força, como se tivessem sido escritos em papel e uma caneta voltasse a passar por cima das letras uma a uma. Tenho alguns dias assim; uns por motivos bonitos, outros nem por isso.

A 5 de abril de 2016 comecei um estágio profissional. Por essa data já eu desconfiava que a minha área — a Multimédia — não era aquilo que mais gostava, até porque na altura não tinha propriamente forma de treinar, como os meus colegas, e acho mesmo que esta área requer esse poder de treino aliado, pois, a uma mente aberta mas focada. Embora eu não estivesse assim tãaao feliz, ainda havia uma parte do todo que me fascinava: programação. A primeira vez que criei um (pseudo) site de raíz, todinho elaborado por estas mãozinhas minhas (e desenhado pela mente brilhante do professor), senti-me capaz de conquistar o mundo. E depois veio o estágio.

Para começar, o meu estágio era a trinta quilómetros de casa. Curioso, porque agora moro mesmo ali ao ladinho e passo por lá de carro todos os dias. Estava numa altura delicada: num ambiente estranho, num começo de namoro que tremia que nem varas verdes, num lugar desconhecido que me obrigou a perder o medo de comboios e de elevadores (mais ou menos, vá) e todas as decisões que eu tomasse seriam muito importantes e desencadeariam consequências sérias. Eu era adulta!

Detestei aquilo com todas as minhas forças... Cada minuto daqueles três meses. Eu tinha os dias marcados em post-its e fazia uma contagem decrescente, marcando um X sempre que suportava mais um, de tão péssimo que era. Andava com um terço na carteira porque a minha chefe acreditava (e fazia menção) a coisas que para mim eram muito estranhas e que chegavam mesmo a assustar-me. Foi nessa altura que perdi dez quilos, que fumei o meu último cigarro, que tive o meu último grande ataque de pânico (de ir às urgências) e que percebi que não queria trabalhar na minha área. 

Às vezes magoa-me não pertencer a algo. Não ter um trabalho numa área que sempre quis, para o qual estudei, para o qual me preparei e cuja função escolhi, efectivamente, exercer. Sinto-me deslocada, como se tivesse falhado por ter desistido. Ainda assim, acho que me magoaria mais, muito mais(!), se tivesse continuado. Não seria eu, e eu não quero ser o que não sou.

24
Mar25

Fosse Saudade só uma palavra...

Depois do almoço, quando saí para voltar a trabalhar, vi o senhor acompanhado do seu cão a entrar no prédio ao lado. Não pude deixar de sentir uma pontinha de inveja.

Eu conheço os cães daqui e por isso sei que este cão mora neste prédio há pouco tempo. Sem a mesma convicção, diria que o senhor também. E eu não consegui evitar sentir a tal pontinha de inveja porque só consegui pensar nos tempos em que por aquela hora não tinha a obrigação de ir trabalhar, e em vez disso passeava a minha Daisy. Caramba, tenho tantas saudades da minha Daisy.

Nunca mais entrei no jardim. As rãs, as borboletas, as flores, o cheiro da roupa lavada nos estendais, o sol de um dia quente a bater-nos na cara e no focinho... Tudo isto são memórias bonitas que ao mesmo tempo me rasgam qualquer coisa cá dentro... 

22
Mar25

Um poema antigo à luz do dia

Ela tem sempre a cama feita

E as unhas pintadas

Por norma senta-se de pernas fechadas

Eu sou muitas numa só

E conseguimos todas ser erradas.

Ela tem lábios suaves

Que beijam com doçura

Dos meus saem palavras grosseiras

Quase sempre em tom de travessura.

Ela é mar calmo pela manhã

Lençol branco estendido ao sol

Eu sou toalha de mesa pingada

Emoção pura como um jogo de futebol.

Ela usa salto alto

E pijama de renda e seda

Eu nunca salto alto

Pois temo a possível queda.

Ela conquistou o teu coração

É a certeza da tua vida

Eu aluguei um apartamento na tua mente

E pretendo prolongar a estadia.

[2021]

13
Mar25

Nadas do dia-a-dia

Sou gente. Sou de carne e osso, sentimentos, futilidades e preocupações:

Olho(-me) ao espelho e não gosto do que vejo. Parece que está tudo fora do lugar. Subo à balança e os números que não via há dois anos confirmam que está mesmo. Ouço um alarme a tocar cá dentro e entro em pânico enquanto luto por me tentar acalmar; eu sei que devo apreciar-me tal como sou, e acima de tudo sei — ou procuro não me esquecer — que conseguir fazê-lo demorou muito tempo, mas assusta-me que seja tão fácil deixar de conseguir.

10
Mar25

O amor está mesmo em todas as coisas, em todos os lugares

O hospital é velho, triste, feio. Lá faz um tipo de frio que não tem propriamente a ver com temperatura. É deprimente, como se nunca (mais) fosse primavera.

Naquela sala específica não há pessoas novas, só velhinhos. Velhinhos que esperam, alguns sozinhos, outros acompanhados de velhinhos menos velhinhos. Por exemplo, há esta senhora que mexe no telemóvel. Ela veste uma saia e tem a perna tapada com uma meia a condizer. Está sentada numa cadeira de rodas. Penso que parece querida e inconscientemente o meu coração amolece enquanto me pergunto se estará sozinha. Torço para que não. Torço sempre, é inevitável.

É fácil observar a sala de espera... As pessoas. A maioria mexe no telemóvel, como a senhora que parece querida. Há quem só olhe para o vazio com ar apático enquanto aguarda a sua vez. A desejar, se calhar, poder estar em qualquer outro lugar que não este. E há também um senhor que, como eu, tem um livro na mão. A diferença entre nós é que ele consegue ler o seu livro e eu não me consigo concentrar, por isso nem tento. Aparece uma grávida com vida a rebentar pela barriga. É lindo de ver e faz-me sentir um ligeiro calor, ainda que o sítio seja frio. Vem de mão dada com uma menina e a acompanhá-las está um homem visivelmente preocupado. Percebo que não falam português e o meu coração amolece mais um pouco.

Sempre que uma nova senha é chamada um som irritante preenche a sala. De vez em quando nomes comuns são chamados pela porta por seres humanos claramente cansados e que claramente têm aquela tarefa como rotineira. Vão limpando a garganta a meio porque a voz falhou… outra vez. Duas, pelo menos.

Enquanto dou conta disto, a senhora que parece querida já não está no mesmo sítio. Percorro a sala de uma ponta à outra com os olhos, mas não a vejo em parte alguma. Deve ter sido chamada para um gabinete.

A minha vez demora a chegar, mas quando chega abana-me um pouco as estruturas. A sala é pequena, quase vazia, num tom de branco que já amarelou. Eu conheço-a bem; já a visitei muitas vezes, algumas delas angustiada. Desta vez sabia que não havia motivo para me preocupar.

A máquina faz um bip rápido às vezes. A cadeira é desconfortável. A médica é simpática e fala com um sotaque algures lá de cima. Sorri ao notar que agora usa uma aliança prateada com uma pedrinha brilhante no anelar esquerdo. É o suficiente para me fazer sentir de novo o ligeiro calor.

20
Fev25

Uma nota sobre Amor

O amor é bonito. Sempre o imaginei e descrevi bonito, mas nunca o tinha visto e sentido bonito. E é. É mesmo! Vale a pena dizer isto outra vez: o amor é, efectivamente, bonito. E o mundo cor-de-rosa é de facto real. Não é um sítio daqueles para onde vamos de carro, a pé ou de transporte. É uma espécie de estado de alma que eu descobri existir quando nós descobrimos amar(-nos).

 

Já nem sei quem era antes de ti. Tenho todas as minhas dores e derrotas gravadas, porque esquecê-las seria trágico, mas sou diariamente atropelada pela realidade: não faz mal um dia ter sido triste, ou ter chorado, ou ter perdido. As coisas foram como foram e questionar isso é perder tempo. Agora tenho a paz que sempre quis, que sempre desejei, que sempre pedi a Deus através de gritos mudos. Estou viva. Essa é uma constatação que outrora me magoava e agora me acalma, me alegra. Estou viva e é tão bom viver quando se é amado desta forma tão especial.

 

Obrigada por transformares a minha perspectiva sobre tudo, a começar cá dentro.

Podes seguramente riscar “mudar a vida de alguém” da tua lista. 

Mensagens

Mais sobre mim

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

A ver