[centésimo post]
Hoje faço vinte e oito anos. Sinto-me estupidamente nova e estranhamente velha.
Quando era pequena tinha muitas expectativas.
Ninguém nos conta que a vida é outra coisa, e não qualquer coisa. E mesmo que contem, quando somos pequenos não queremos saber dessas parvoíces de adulto — por muito que nos tentem ensinar o que é vida, a vida é o que fazemos no intervalo de tempo em que pensamos o que fazer dela.
Nunca tive muitos amigos. Sempre fui sozinha. Brincava comigo mesma e brincava com o mundo enquanto ele girava. Fingia que estava num grande barco e cada carro que passava era um tubarão. Interpretava a Pequena Sereia no meu puff branco e rosa, que na realidade era uma rocha no meio do mar. Arrancava os tacos de madeira do chão do quarto dos avós como se estivesse a cavar terra à procura de tesouros (— cotão conta?). E por aí fora.
Cresci. Deixei de brincar com o mundo e passei a querer o mundo. Ouvi, e senti, muitas vezes, quase sempre, que era demasiado nova para tudo. E perdi o interesse nas coisas, pois esperar nunca foi o meu forte. Se há coisa que eu detesto é esperar. Eu sou urgente demais e incomoda-me quem não seja. Será que ainda ninguém percebeu que o tempo foge por entre os dedos, e que cada dia que passa é um dia a menos que temos?
Agora tenho oficialmente vinte e oito anos e nunca mais me senti demasiado nova para o que quer que fosse. Às vezes até me sinto é demasiado velha para algumas coisas. E eu sei, mesmo, que as pessoas mais velhas se riem desta minha afirmação. Mas não deixa de ser o que eu sinto. Nem sempre… só às vezes.
Conforme os dias vão passando sou assaltada à mão armada por uma realidade assustadora: tenho medo de morrer. E pena. Tanto medo e tanta pena. É engraçado pois a minha adolescência e posterior período foram passados a ferro por uma depressão que me fez ficar trancada num quarto escuro a maior parte dos dias e querer morrer a maior parte das noites. Existir doía tanto! Agora encontro prazer nas mais pequenas coisas e o que me dói é pensar que isto pode acabar assim, de repente, sem eu ter escutado todas as canções, provado todos os sabores, vivido todas as experiências, lido todos os poemas.
Hoje faço vinte e oito anos. Descobri que prefiro o cabelo curto, que croissant de doce de ovos é tão bom ou melhor ainda do que croissant de chocolate e que as coisas são o que são. Parece tonto, mas saber que as coisas são o que são é saber metade do todo.